O HORROR, AS AUTORIDADES E O CIDADÃO

Desde o dia do horror, 12 de fevereiro, venho observando os dois grupos que se formaram: o oficial e o real.

O oficial são as autoridades, ongs, igrejas, jornalistas, cientistas, professores, sociólogos e outros grupos envolvidos com as questões da segurança pública e dos direitos humanos. O real são os cidadãos. Li e ouvi os discursos do primeiro. Ouvi e li as opiniões do segundo.

Percebi que o primeiro e o segundo grupos são totalmente divergentes. Provavelmente porque os últimos são as vítimas da violência, enquanto os primeiros são aqueles que a engendram em seu cotidiano blindado e distante da vida normal.

Percebi também que, independente de qualquer divergência, os integrantes do primeiro grupo sempre se unem quando algum monstro comete uma atrocidade, principalmente se o monstro em questão for pobre. Sendo pobre, tudo pode, tudo lhe será perdoado. Será isso o que chamam de “justiça social”?

Antes, neste país, eram os ricos que nunca conheciam uma prisão. Agora são os ricos e os pobres. Estamos mesmo perdidos.

Vi em um jornal daqui, um debate entre uma delegada e um promotor da infância e da adolescência. Ela dizendo do desespero dos cidadãos que recebe todos os dias e do clamor por medidas urgentes para conter os monstros que os violentam continuamente. Ele, o promotor, explicando que a sociedade não pode exigir mais do que as leis preconizam e nem pode querer que se legisle no “calor do momento”.

Entre as autoridades, a mensagem unívoca é de que não adianta endurecer as penas nem alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considerado um dos mais “avançados” do mundo. Ah! Que bom seria se, nesse assunto, papel cheio de letrinhas tivesse efeito na vida real.

Todos dizem que endurecer as penas e estender a responsabilidade penal até os 16 anos é contraproducente na redução da violência.

Sobre a redução da idade, Mercadante disse que “jogar esses jovens em um presídio não vai resolver porque ele vai voltar mais tarde depois de ter passado pela universidade do crime”. Esses “jovens”, vejam bem. Esses jovens, menores ou maiores, que arrastaram uma criança por sete quilômetros, sabendo muito bem o que estavam fazendo. Não, eles não devem ir para o presídio. Eu pergunto: os algozes do menino João Hélio, podem se tornar ainda piores do que demonstraram ser?

Fiquei analisando os discursos das autoridades e afins, tentando entender porque, irredutível e unanimemente, vão de encontro àquilo que a sociedade quer. Pensei em algumas respostas, além da natural arrogância de quem assume uma sinecura qualquer neste pobre país e, por isso, julga-se melhor, mais inteligente, mais forte. São democratas de araque, todos esses indivíduos.

As tais ongs, com exceções que se contam nos dedos da mão, nem são dignas de menção porque, como algumas “igrejas”, crescem e se multiplicam como erva daninha que são, explorando o sofrimento, a fome, a miséria, a dor e, principalmente, a ignorância do povo, de onde tiram seu rico dinheirinho e garantem sua sobrevivência, muitas vezes, luxuosa.

Para mim, a resistência das autoridades em relação à redução da idade penal e às mudanças nas progressões de regime, inclusive para reincidentes só tem uma explicação: a inépcia.

Não há política governamental para a área de segurança pública. Aliás, este não é privilégio do lulo-petismo porque nunca houve. Basta conversar com um único policial para entender isso. Se houvesse um índice (coisa que os burocratas incapazes adoram) para medir o planejamento e a aplicação de recursos em segurança pública, certamente o Brasil estaria em último lugar. Tudo que se vê em relação a este assunto é mentira ou panos quentes, comprovados facilmente pela incapacidade da polícia de prender e do sistema carcerário de absorver os criminosos.

As autoridades se unem na defesa dos criminosos porque sabem muito bem que sem planejamento e investimento, a lei de execução penal é letra morta. Mudá-la para quê? E, mais grave ainda: os criminosos estão cientes desse fato. Talvez mais que muito cientista, sociólogo ou defensor dos “direitos humanos”.

A questão subliminar a essa aparente defesa dos monstros que nos amedrontam é nossa velha conhecida: trata-se da lei da sobrevivência. Incapazes que são de restabelecer a ordem pública no país, resguardam-se e fingem. Fingem proteger os “menores”, fingem se preocupar com os direitos dos presos, fingem cumprir a lei, para esconder sua incompetência.

A prova maior disso está na situação dos próprios menores presos (ou aquele eufemismo que o tal do ECA usa para essa situação). Há locais apropriados para mantê-los? Não ouvi nem li nada a esse respeito desde a criação desse código. Temos sim, as leis mais avançadas do mundo, somos modelo, como gostam de afirmar o primeiro grupo citado no início. E daí? Tudo para nada, porque as leis são letra morta.

Os cidadãos, vítimas constantes de criminosos menores ou maiores e beneficiados com direitos escandalosos, continuam a ouvir as alternativas governamentais para o crime e a impunidade, como um cânone divino: “temos que investir em educação, moradia, lazer, saúde, etc., etc., temos que investir em escolas e não em presídios”. Sim, concordo, mas até quando vamos ficar ouvindo isso? Onde estão estes investimentos? No PAC? No bolsa-esmola?

Há anos, séculos talvez, é o que se ouve neste país. E nada é feito, nada. O governo não faz nada para melhorar as condições sócio-econômicas dos cidadãos e impedir que seus filhos se tornem criminosos. Mas, sempre que uma tragédia nos abate pela mão de algum monstro, lá vem a ladainha mentirosa, sempre repetida, para impedir que o cidadão se mova e se defenda contra os verdadeiros culpados dessa situação.

E assim, vamos levando o barco da mentira. As autoridades e a justiça, guardadas em seus prédios magníficos de mármore e granito, que mais se assemelham a túmulos, pela aparência e conteúdo, continuam nos enganando.

Enquanto isso, os cegos, os insensíveis, os aproveitadores e os otários, bárbaros que são, dançarão nus sobre o sangue de mais uma vítima brasileira.

16 comentários:

Anônimo disse...

Reportagem do Jornal Nacional denuncia negligência em obras do metrô de São Paulo
Reportagem de César Tralli no Jornal Nacional de ontem mostrou que corre perigo de desabar mais um trecho da linha do metrô que está sendo construída, como ocorreu no trecho da estação Pinheiro. Agora o problema está na Fradique Coutinho.

É mais uma tragédia anunciada. Vamos ver as providências que serão tomadas pelo governador José Serra. Dessa vez ninguém pode alegar desconhecimento dos vários e graves problemas denunciados na reportagem.
Trata-se de uma obra de grande porte aprovada pelo governo tucano de Geraldo Alkmin(oPSDB está há 20 anos desgovernando S.Paulo) que deveria ser fiscalizada pelo estado e que os grandes interesses financeiros e politicos redundaram numa amostra do que seria o país se ele fosse eleito presidente.
Segundo laudos obtidos com exclusividade pelo repórter, as soldas que prendem as vigas que sustentam a estação estão completamente fora das normas, pondo em risco toda a estrutura da obra, que corre o risco de desabar.

Apesar disso, o engenheiro do metrô responsável (??) afirmou que garante que a obra é segura. Sugestão: ele deveria despachar num escritório montado sobre ela até sua conclusão.
blogagem coletiva
CPI METRO SP

Da C.I.A. disse...

Putz Saramar, tem petralha sujando sua caixa de comentários. "Death Penalty" nele!

Anônimo disse...

Como sempre vc toca no ponto ,sem meias palavras,SARAMAR. Alias,se este mínimo fosse feito pelas nossas otoridades,não estaríamos aqui ,discutindo o sexo dos anjos.
Ou seja,sabe onde tudo isto vai dar?? O menino sera apenas mais um numero.
Beijos!!

@David_Nobrega disse...

Sara,

Como já escrevi uma vez sei lá onde, no Brasil temos ilhas de excelência: excelentes empregos, excelentes cargos, excelentes comissões e excelentes apadrinhamentos. O excelente escremento social.

Orlando Tambosi disse...

Tadinhos dos nossos monstros mirins, Saramar. Eles são fruto da "desigualdade social", nasceram anjinhos e se tornam monstros por causa da "sociedade" (haja Rousseau).
Hipocrisia sem fim. Estamos realmente perdidos neste Acampamento.

Bj

Ricardo Rayol disse...

Esqueceu de dizer que as ONG's ainda por cima sangram o erário público. E, a causa de tantos nobres juristas ficarem enrolando ou é que não quererm mais trabalho ou que fazem uma justiça paralela em causa própria.

Weluger disse...

Ola Saramar!

A Presidente do STF deveria ter sido assassinada naquele episódio em que foi vítima de assalto no Rio de Janeiro. A Ministra, é claro.

A gente nunca vê, ouve falar, de um membro graúdo de qualquer dos três poderes, F Armadas, etc., terem filhos sequestrados, mortos ou qualquer outra coisa. Os 'chefes' ou capos, prefiro este, estão totalmente imunes ao que se vive em termos de mundo real Nestepaiz. Está tudo bem.

Abçs.

PELADUZ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
PELADUZ disse...

De acordo, tudo bem.

Quem vai colocar o guiso no pescoço do gato?

Beijos

Glênio Gangorra disse...

Isso não é nada perto da injustiça contra nosso amado José Dirceu. Nós, ativistas militantes, estamos nos mobilizando para realizar um grande movimento pela anistia de nosso amado José Dirceu, esse procér da democracia, esse luminar do movimento bolivariano, enfim, esse porreta. Iremos demonstrar a força dos militantes internéticos contra a opressão liberticida da direita facista reacionária.

Al Berto disse...

Olá Saramar:

Por outras palavras, estão cridas as condições para um "carnaval" que, para o mundo que assite nas televisões, há muito saiu ás ruas.
Este ano ainda mais "apetitoso" na eterna cidade "maravilhosa".

Neste dia de S. Valentim não podia deixar de te vir dizer que o meu desejo é que o amor e a felicidade te invadam 365 dias por ano.

Um beijo,

Kaka da Motta disse...

Saramar,
pior que esta novela é mais longa que "Direito de Nascer"....
será que ainda estarei viva pra ver a vida mais segura?
bom carnaval pra ti
bjka

Anônimo disse...

é descaso e omissão de todos incluíndo aí também a população que não reaje, o Rio já esqueceu, depois do menino outros morreram, mas o que importa é o carnaval

CAntonio disse...

Saramar,

Existe um ponto em que os "contra" a maioridade penal, deturpam a discussão. Dizem esses, que colocar os "meninos" em presídios, juntamente com os "maiores", seria um crime. Isso é correto, acredito que ninguém seria favorável. O "menino" (tadinho) assassino, até os dezoito anos, deve ficar separado, é óbvio; após os dezoito deve cumprir o restante de sua pena como qualquer outro assassino.

O que essa gente não quer é abrir os cofres para construir presídios; preferem gastar esse dinheiro com o "aparelhamento" do estado.

SDS

Patrick Gleber disse...

Minha querida Saramar, que texto inteligentíssimo. Olha são poucos posts de blog que eu imprimo mas esse seu merece um pouquinho da minha tinta de impressora. Parabéns.

Patrick Gleber
www.blogdopatrick.br21.com

Jorge Sobesta disse...

Saramar,

O fato do molusco não querer mexer na questão da maioridade penal é porque os cumpanheiro das ONGs ganham um dinheirinho muito bom para cuidar das criancinhas, afinal, alguém tem que cuidar das criancinhas.
Agora, você já reparou na fonética dessas siglas?

ONG = som de (muito)dinheiro descendo goela abaixo;
PAC = som de um pacote de medidas atingindo a cara do cidadão;
ECA = som emitido por um político ao ouvir falar em crianças e adolescentes carêntes.

Grande abraço.