"LOST" REAL


Imagem: Angeli

Na vida real, existe uma ilha semelhante à de “Lost”, onde uma névoa de desconhecimento tolda a visão dos habitantes, impedindo-os de enxergar a realidade e reagir a ela. Na série da TV, há protagonistas; nesta ilha real, zumbis, entorpecidos pela cantilena falsa das sereias que conduzem o país navegando em sufocante lama vermelha.

Tal qual em outra ilha real, mais funestamente conduzida, nesta, a maioria assiste, MUDA, a todo tipo de descalabro, a toda mentira oficiosa, à bruta enganação dos palanques pagos pelo erário, à inércia administrativa e, mais grave, ao intencional desprezo da legalidade por parte das “autoridades” que por ela deveriam zelar.

O imperativo da ilha é a impunidade daqueles que não são “homens comuns”. O dia a dia desta ilha caracteriza-se por um jogo de falsas aparências, de cinismo, de ocultamento e meias verdades, de mentiras completas, de aplicação artificiosa das normas jurídicas. Na ilha, reina a cegueira intencional, que relativiza as condutas criminosas em acordo com o cargo dos infratores. Na ilha, persiste (não por acaso) uma condescendência aduladora e nauseante com os falsos bons mocinhos “donos” dos cargos públicos e que deles usam e abusam em proveito próprio.

A ilha é infestada por ratos de todo tamanho. Desde as ratazanas que agem nos esgotos, famintas venenosas e gordas, até os ratinhos mínimos que se contentam com roer beiradas, aproveitar sobras, mas nem por isso, menos nocivos. Todos se alimentam das entidades públicas, em pântanos por eles mesmos criados para se fartarem à larga. As ratazanas, assim como os camaleões, mudam diante da luz: trocam os nauseantes pelos pela roupagem dos humanos, quase se parecendo com estes. Seu odor, porém é inconfundível. Como se alimentam do sangue e do suor alheios, dentro dos seus ternos bem cortados, exalam o cheiro putrefato dos cadáveres.

Aos ratos, unem-se outras espécies, ainda mais rasteiras e abjetas, pois que vivem dos restos por eles deixados. Estas garantem a sobrevivência daqueles por meio de alta blindagem, por uma cortina de enganos nunca antes vistos. São os chacais, as hienas, os vermes.

Diante da sofisticação dos ratos e sua lábia perniciosa, os humanos da ilha, os comuns permanecem estáticos, engolindo o regurgitamento imobilizante, ora estupefatos diante de tanto lixo, ora enfeitiçados pelo canto da sereia. Esqueceram como exercitar a indignação dos honestos, a fúria dos enganados, dos roubados. Perderam as referências éticas, embotados que vivem pela mentira e os relativismos. Entregaram os pontos e se deixam conduzir pela imoralidade, defendendo-a, em muitos casos. Estão deixando de ser humanos, transformam-se em amebas.

Esta ilha, habitada por ratos, chacais, vermes e amebas, chama-se Brasil.

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