um texto de Alexandre, The Great
O ano que passou marcou o cinqüentenário da indústria automobilística brasileira.
Em 1956 o Brasil vivia um momento ímpar. Tínhamos na presidência da república um sujeito interessantíssimo, chamado Juscelino Kubitscheck, que prometia fazer em cinco anos o que qualquer outro faria em cinqüenta.
O Brasil era o país do futuro, todos os sonhos eram possíveis.
Naquele final de década, o mundo aplaudia a Bossa Nova no Carnegie Hall, a televisão dava seus primeiros passos, Brasília era inaugurada. E mais: os brasileiros eram campeões mundiais de futebol. E de basquete também. Uma tenista – Maria Esther Bueno – vencia em Wimbledon. Eder Jofre consagrava-se campeão mundial de boxe. E uma porção de gente fazia acontecer, transformando sonhos impossíveis na Embraer, na Embrapa, na Petrobrás (não é Petobrais, viu?) e em tantas empresas de sucesso.
Era fascinante ver a coragem, o senso de oportunidade, a visão dos empreendedores brasileiros.
E a evolução tecnológica nessas cinco décadas?
Um assombro!
Mas... tem algo que está incomodando.
E os empreendedores?
Cadê aqueles malucos visionários e corajosos?
Cinqüenta anos depois, cadê a indústria automobilística genuinamente brasileira?
O gato comeu.
A indústria automobilística brasileira não é brasileira. É global, com objetivos e prioridades definidas nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, na Itália e no Japão.
A genuína indústria automobilística brasileira, que até o início deste ano se limitava à Troller, a fábrica dos jipes 4 x 4 no Ceará, agora inexiste, comprada que foi pela FORD.
E as outras?
Morreram.
Puma, Gurgel, Miura, Engesa...
Criações de empreendedores corajosos que foram tratados como loucos, idealistas e inviáveis. Mas quando examinamos essa “loucura inviável” de uma perspectiva de cinqüenta anos, parece que há algo errado.
Só para comparar com quem está na moda: em 1956, enquanto fabricávamos nossos primeiros automóveis no Brasil, os chineses andavam de carro de boi. Os indianos, de elefante. Os coreanos, a pé, em estradas destruídas pela guerra. Esses países eram conhecidos pela miséria industrial, política e econômica. Gigantescos fracassos, que se apagavam diante da exuberância de um Brasil emergente.
Qualquer um apostaria em nós! Este é o país do futuro !
Era...
Pois já foi divulgado que os chineses estão trazendo uma fábrica de automóveis para o Brasil. E que está planejada para os próximos meses a importação de carros chineses – e até indianos.
Da Coréia, então, nem se fala! Importamos tecnologia de quem andava a pé quando já fabricávamos carros no Brasil.
Levamos cinqüenta anos para inverter as apostas. A conclusão é que os loucos chineses, indianos e coreanos são mais viáveis que os nossos.
As pesquisas que se vêem (encomendadas pelo governo, é claro) apontam o renascimento do empreendedorismo no Brasil.
Mas é um empreendedorismo diferente. Não é o mesmo daqueles loucos de cinqüenta anos atrás. A maioria do empreendedorismo brasileiro deste começo de milênio é o do sujeito que precisa vender o almoço para arranjar o que comer no jantar. É o empreendedorismo da necessidade, das expectativas apenas razoáveis, geradas por carências básicas.
E é aí que o bicho pega.
A expectativa dos loucos chineses, indianos e coreanos é de conquistar o mundo, como queriam os brasileiros de cinqüenta anos atrás. A expectativa dos normais brasileiros de 2007 é ter um dinheirinho pra comprar um carrinho. De preferência chinês, que é mais baratinho, economicozinho. E até bonitinho...
É a expectativa de quem vive na média. Acostumado com o que é meio-bom, meio-suficiente, meio-competente, meio-confortável, meio-saudável.
A expectativa de quem é meia-boca.
De quem não percebe que meio-bom é, também, meio-ruim.
Meio-honesto é meio-desonesto.
Meio-competente é meio-incompetente.
Qual dessas metades você prefere?
E assim, na república da meia-boca, cai o avião da Gol e o caos toma conta dos aeroportos, o PCC reina quando quer, as chuvas inundam São Paulo (e Minas Gerais, também), as estradas são um buraco só, os juros são os mais altos do mundo, a educação é uma piada (só a Saúde é “quase perfeita”).
Aí o povo indignado faz cara de espanto, esbugalha os olhos e exclama diante da televisão:
- Mas como?
E então, certos de que fizemos “o que dava”, “o que era possível”, voltamos à nossa vidinha das expectativas médias.
Resignados como bovinos.
Querem saber de uma coisa?
Chega de se contentar com a metade.
Quero o Brasil inteiro!
Mas é bom nos apressarmos, os chineses também querem !
Em 1956 o Brasil vivia um momento ímpar. Tínhamos na presidência da república um sujeito interessantíssimo, chamado Juscelino Kubitscheck, que prometia fazer em cinco anos o que qualquer outro faria em cinqüenta.
O Brasil era o país do futuro, todos os sonhos eram possíveis.
Naquele final de década, o mundo aplaudia a Bossa Nova no Carnegie Hall, a televisão dava seus primeiros passos, Brasília era inaugurada. E mais: os brasileiros eram campeões mundiais de futebol. E de basquete também. Uma tenista – Maria Esther Bueno – vencia em Wimbledon. Eder Jofre consagrava-se campeão mundial de boxe. E uma porção de gente fazia acontecer, transformando sonhos impossíveis na Embraer, na Embrapa, na Petrobrás (não é Petobrais, viu?) e em tantas empresas de sucesso.
Era fascinante ver a coragem, o senso de oportunidade, a visão dos empreendedores brasileiros.
E a evolução tecnológica nessas cinco décadas?
Um assombro!
Mas... tem algo que está incomodando.
E os empreendedores?
Cadê aqueles malucos visionários e corajosos?
Cinqüenta anos depois, cadê a indústria automobilística genuinamente brasileira?
O gato comeu.
A indústria automobilística brasileira não é brasileira. É global, com objetivos e prioridades definidas nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, na Itália e no Japão.
A genuína indústria automobilística brasileira, que até o início deste ano se limitava à Troller, a fábrica dos jipes 4 x 4 no Ceará, agora inexiste, comprada que foi pela FORD.
E as outras?
Morreram.
Puma, Gurgel, Miura, Engesa...
Criações de empreendedores corajosos que foram tratados como loucos, idealistas e inviáveis. Mas quando examinamos essa “loucura inviável” de uma perspectiva de cinqüenta anos, parece que há algo errado.
Só para comparar com quem está na moda: em 1956, enquanto fabricávamos nossos primeiros automóveis no Brasil, os chineses andavam de carro de boi. Os indianos, de elefante. Os coreanos, a pé, em estradas destruídas pela guerra. Esses países eram conhecidos pela miséria industrial, política e econômica. Gigantescos fracassos, que se apagavam diante da exuberância de um Brasil emergente.
Qualquer um apostaria em nós! Este é o país do futuro !
Era...
Pois já foi divulgado que os chineses estão trazendo uma fábrica de automóveis para o Brasil. E que está planejada para os próximos meses a importação de carros chineses – e até indianos.
Da Coréia, então, nem se fala! Importamos tecnologia de quem andava a pé quando já fabricávamos carros no Brasil.
Levamos cinqüenta anos para inverter as apostas. A conclusão é que os loucos chineses, indianos e coreanos são mais viáveis que os nossos.
As pesquisas que se vêem (encomendadas pelo governo, é claro) apontam o renascimento do empreendedorismo no Brasil.
Mas é um empreendedorismo diferente. Não é o mesmo daqueles loucos de cinqüenta anos atrás. A maioria do empreendedorismo brasileiro deste começo de milênio é o do sujeito que precisa vender o almoço para arranjar o que comer no jantar. É o empreendedorismo da necessidade, das expectativas apenas razoáveis, geradas por carências básicas.
E é aí que o bicho pega.
A expectativa dos loucos chineses, indianos e coreanos é de conquistar o mundo, como queriam os brasileiros de cinqüenta anos atrás. A expectativa dos normais brasileiros de 2007 é ter um dinheirinho pra comprar um carrinho. De preferência chinês, que é mais baratinho, economicozinho. E até bonitinho...
É a expectativa de quem vive na média. Acostumado com o que é meio-bom, meio-suficiente, meio-competente, meio-confortável, meio-saudável.
A expectativa de quem é meia-boca.
De quem não percebe que meio-bom é, também, meio-ruim.
Meio-honesto é meio-desonesto.
Meio-competente é meio-incompetente.
Qual dessas metades você prefere?
E assim, na república da meia-boca, cai o avião da Gol e o caos toma conta dos aeroportos, o PCC reina quando quer, as chuvas inundam São Paulo (e Minas Gerais, também), as estradas são um buraco só, os juros são os mais altos do mundo, a educação é uma piada (só a Saúde é “quase perfeita”).
Aí o povo indignado faz cara de espanto, esbugalha os olhos e exclama diante da televisão:
- Mas como?
E então, certos de que fizemos “o que dava”, “o que era possível”, voltamos à nossa vidinha das expectativas médias.
Resignados como bovinos.
Querem saber de uma coisa?
Chega de se contentar com a metade.
Quero o Brasil inteiro!
Mas é bom nos apressarmos, os chineses também querem !
7 comentários:
Que texto excelente!
É uma grande realidade, nos contentamos com o mais ou menos...
Fiquei até saudoso.Tem muitos querendo o Brasil inteiro para si, só o povo brasileiro se contenta com o que sobra, o Brasil mentira.
Baita texto. E se estão falando em empreendendorismo o unico que conheço é aquele praticado na comissão do orçamento da pocilga.
Perfeito Saramar! Optamos pela mediocridade, essa é a verdade.
Tudo ficou lá embaixo, na categoria do "é bonzinho" ou para fazer uma gracinha, "não é uma brastemp"!
Um país enorme e tão rico de recursos e culturalmente como o Brasil, não pode se contentar com um governo, parlamentos, justiça, empresas, escolas e um povo medíocre. Não dá!
Há uns cinquenta anos atrás meu pai falava que o Brasil era o país do futuro.
Que ilusão...se ainda estivesse aqui ia ter um enorme desgosto...
Falamos dos americanos mas somos piores: só nos importamos com o resto do mundo quando tem copa do mundo de futebol. Ou piloto de F1 vencendo corrida!
As pessoas estão "empreendendo" porque não tem emprego, a legislação trabalhista está ultrapassada, a carga de impostos é enorme.
E continuamos lendo estatísticas e achando que está tudo bom....
Parábéns Saramar, você foi na veia!
Belo e importante desabafo,SARAMAR.
Eu,sinceramente acho que é "sina" nossa continuar eternamente em berço esplendido. Além de não interessar a ninguém o nosso crescimento,o próprio povo merece,e muito,a situação em que nos encontramos.
Triste história a nossa.
Beijo grande!
não irei usar uma expressão vulgar, porque não é do meu feitio, contudo é sim o país da meia boca, tudo é feito assim no amadorismo, sempre se contentando com o pouco ou nada, e o povo aceita
é a mediocridade imperando
Velhos tempos, velhos dias.
60% da população entrevistada pelo Ibope numa pesquisa encomendada acha que isto que está no governo é bom.
Não são os chineses que tem aquela tortura com palitinhos debaixo das unhas? Vai ser muito útil em breve, hehe
Grande abraço e bom final de semana.
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