MOLIÉRE, ATUALÍSSIMO....

"D. João:

Já não há vergonha nisto, agora, a hipocrisia é o vício da moda, e todos os vícios da moda passam por virtudes. O da personagem da pessoa de bem é o melhor de todos os personagens que se possa representar nos tempos que correm, e a profissão de hipócrita tem maravilhosas vantagens.

É uma arte em que a impostura é sempre respeitada, e mesmo que a descubram, não se ousa dizer nada contra ela, todos os outros vícios dos homens estão expostos à censura, e qualquer um tem a liberdade de os atacar de alto, mas a hipocrisia é um vício privilegiado, que fecha a boca a toda a gente, e goza em repouso de uma soberana impunidade. À custa de dissimulações vemos formar-se uma associação estreita à volta de todos os que tomam esse partido;

Quem atacar um deles, vê-se a braços com todos eles, e aqueles que sabemos que agem mesmo de boa fé sobre isso, e que são conhecidos por agirem com verdade: esses, digo, são sempre os instrumentos dos outros, deixam-se completamente enrolar por eles, e apoiam cegamente manipulados as suas acções. Quantos pensas que conheço que, por este estratagema, fizeram esquecer expeditamente as desordens da sua juventude, que fizeram um escudo com o manto da religião, e sob esse hábito respeitável gozam da permissão de serem os piores homens do mundo?

Bem se pode conhecer-lhes as intrigas, e saber o que são, não é por isso que deixam de ter crédito junto das pessoas, e algumas vezes em que baixem a cabeça, soltem um suspiro magoado, e rolem os olhos, é quanto basta para reparar no mundo tudo o quepudessem ter feito. É sob este abrigo favorável que me quero proteger e pôr em segurança os meus assuntos. Não tenciono deixar os meus doces hábitos, mas terei o cuidado de me esconder, e divertir-me-ei sem grande alarido. E se vier a ser descoberto, verei sem mexer um dedo toda a cabala tomar em mão os meus interesses, e serei defendido por ela de e contra todos.

Enfim, é esta a melhor maneira de fazer impunemente tudo o que quero. Erigir-me-ei em censor das acções de outrem, falarei mal de toda a gente, e só de mim terei boa opinião."

D. João, de Molière
acto V, cena 2

7 comentários:

Orlando Tambosi disse...

Saramar,
toda a crítica que fizeram no passado cabe ao Grotão "muderno".

Abração

Anônimo disse...

Saramar.
Moliére falava de um rei. Um soberano despótico, egocêntrico e megalômano.
Sem dúvida atualíssimo...

E a Grande Vaia em Goiânia? Vai nos contar?


Alexandre, The Great

P.S. tenho uma surpresa prá vc no OutrasLetras...

Anônimo disse...

A história se repete, mesmos personagens, mesmos erros..... a humanidade não aprende, apenas reproduz

CAntonio disse...

Saramar,

A história vai se repetir e repetir, mas poderemos não ter tempo de corrigí-la.

SDS

Anônimo disse...

Atualíssimo,eu diria,SARAMAR.

Beijão e uma otima semana!

Unknown disse...

Saramar, o pessoal já disse tudo, muito atual mesmo. Uma otima semana..

Anônimo disse...

Olá Querida Saramar, mesmo ausente tenho-a acompanhado, mas estou com saudades e constrangido pela ausên
ci quase eterna rsssss, mas prometo
voltar com mai frequência logo que possa.Qto ao texto, dizer que é atu
alíssimo é a redundância emergente do obvio.Um bjo a vc e fique com DEUS