OS "INOCENTES"

Nestes tempos de corrosão de qualquer ética, não causa surpresa a absolvição da juíza Clarice Maria de Andrade, envolvida no caso daquela menina violentada, em uma prisão no Pará.

Segundo o Consultor Jurídico, os desembargadores do TJ do Pará consideraram que a juíza não pode ser responsabilizada pela prisão porque "a responsabilidade administrativa pela custódia do preso é do Estado".

E eu que pensava que o poder judiciário seria um integrante constitutivo do Estado! Quanta ignorância!

Tal acontecimento é reflexo desta época de amoralidade, cujos exemplos concretos nascem nas altas esferas do poder e são transmitidos cotidianamente aos cidadãos. Esta é a época em que criminosos são alçados à categoria de vítima e, nos palanques eleitoreiros, corruptos ombreiam as autoridades (?) e são por elas bajulados.

Como então, condenar a juíza ou qualquer outro ente público pela violência sofrida por uma menina do povo? Seria muito injusto para esta representante do judiciário que, se se considerar a moral vigente, merece alguma medalha dessas distribuídas aos que "prestaram relevantes serviços à pátria".

Este caso é exemplar da hipocrisia das autoridades (?) deste pobre país, que mentirosa e cinicamente, usam a burocracia para justificar seu arrogante desinteresse pela vida do cidadão. É assim no caso desta menina que, presa por seus "crimes", penalizada pelo "Estado", cerceada pelo "Estado", vigiada pelo "Estado", foi por ele violentada bem diante de todos aqueles que, de posse de um cargo público, hoje fingem não fazer parte da estrutura do Estado para justificar sua omissão criminosa e desumana.

Hoje, aquela menina de quem só se conhece uma inicial e a tragédia que viveu, está vivendo como clandestina em seu país. É vítima e vive ainda hoje presa na necessária clandestinidade. Aqueles que a vitimaram, enquanto isso, vão, um a um, comemorando o livramento deste "problema". Sorriem diante dos holofotes.

É assim também no caso do irmão de Celso Daniel, que vive como refugiado em outro país. É assim no caso de Francenildo, o caseiro, vitimado por Palocci.

No país em que severinos e renans foram transformados em vítimas pelo primeiro mandatário, as verdadeiras vítimas devem se cuidar e se esconder enquanto seus algozes, felizes, usam indecente retórica para cobrir a buraco onde deveriam estar a vergonha e a dignidade.

8 comentários:

CAntonio disse...

Santa,

....e a desgraçada da juíza não representa o Estado?

Aliás o Estado somos nós; mas apenas na hora de pagarmos a fatura das indenizações - justas é claro - quando um agente publico erra feio.

Eu num guento essa Republica da Rapinagem.

Anônimo disse...

Como diria a grande Arlete Sales:

PREFIRO NÃO COMENTAR!!!


Isto aqui acabou,SARAMAR!!

Beijos!!

Alexandre, The Great disse...

E ainda existe aquele artigo da Lei de Murphy: "nada é ou está tão ruim que não possa piorar um pouco mais".

Somos reféns desta ditadura em nosso próprio país. Lembra-se quando conversávamos sobre isto lá no e-agora há uns 4 anos?

Anônimo disse...
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Lunna Guedes disse...

Acho isso um absurdo, quando ouvi a notícia fiquei com cara de boba diante da tela do computador. Imaginando o que pensar, afinal, se a juíza que é quem deve agir, não é responsável, quem será? Nós? Nunca se sabe. Abraços meus...

Anônimo disse...

no caso da menina a culpa será do carcereiro e no caso do Celso.. quem sabe se no próximo século a verdade será divulgada

Anônimo disse...

Se o chefe maior, o nosso ilustre presidente, quando inquirido sobre a vergonheira do MENSALÃO, disse nada saber ... o que mais essa ilustre senhora poderia dizer ... é como eu digo .. cada um dá o que tem ... e esse juri que absolveu a juiza é só uma questão de corporativismo .. um beijo entristecido do amigo carioca ... guto leite
www.chutandoobardi.blogger.com.br

Anônimo disse...

Saramar achei sua percepção ética sensacional,parabéns pelo artigo.Apesar de meus 15 para 16 anos sou muito crítica em relação a fatos "ilegais" ou prejudiciais a quaisquer ser humano no exercicio de seu direito.Por isso quero seguir carreira de delegada ou juíza confiante que um dia poderei fazerminha parte para melhorara o mundo,afinaltudo começa com pequenas atitudes!