QUANDO EU MORRER...

"Nada incomoda mais um canalha que uma pessoa de bem. Fere a auto-estima do canalha saber que há pessoas honestas."

"Canalhas de todos os matizes: eu não sou como vocês. Ética para mim não é pose, não é bandeira eleitoral, não é construção artificial de imagem para uso externo. Ética para mim é compromisso de vida. Agir eticamente para mim é tão natural quanto o ato de respirar."
Jefferson Péres


Todos os políticos que falaram sobre Jefferson Péres, no dia de sua passagem, referiram-se principalmente à ética e ao respeito aos interesses do país, que foram a principal característica de sua atuação política. Garibaldi Alves Filho, presidente do senado, resumiu em uma frase, tudo o que se sabe e se pensa sobre ele: "Na defesa da ética, ele era absolutamente incontrastável. Nunca cedeu um milímetro sequer".

Por isso, senti grande estranheza ao ouvir algumas "autoridades" falando em ética e elogiando o nobilíssimo senador quando desprezam esse conceito em suas práticas habituais.

Refletindo sobre o significado da perda deste político brasileiro, cultuado por ser honesto, ao contrário de grande número dos seus pares, fiquei imaginando o que as pessoas dirão quando alguns deles morrer. Por exemplo, Jader Barbalho e Renan Calheiros cujas vidas cruzaram com a de Jefferson Péres, os primeiros na condição de investigados e o último na condição de membro do Conselho de Ética do senado que os julgou. Em ambos os casos, o senador Péres foi voto vencido, quando seus companheiros preferiram derrotar a ética e o respeito aos bens públicos em favor dos corruptos.

De Jader Barbalho, as pessoas se lembrarão que foi obrigado a renunciar à presidência do senado para não ter o mandato cassado. Os comentários sobre sua atuação política, certamente farão referência à excelência como o "chefe da quadrilha" que saqueou a Sudam (segundo o parecer do juiz federal Alderico Rocha Santos, da 2ª Vara Federal do Tocantins). Também poderão mencionar que este "representante" do povo do Pará foi acusado de desviar recursos no processo de desapropriação do imóvel rural Vila Amazônia por meio da supervalorização da indenização. A desapropriação ocorreu em 1988, quando o deputado era ministro da Reforma Agrária. As terras, situadas no município de Parintins, no Estado de Amazonas, seriam usadas na reforma agrária. Mas também não se poderá deixar de mencionar que tal figura pública foi acusada de envolvimento com o desvio de recursos do Banco do Estado do Pará (Banpará) entre outubro de 1984 e agosto de 1985. Naquela época, exercia o cargo de governador do Pará.

De Renan Calheiros, quando este passar para o círculo mais inferior dos infernos dantescos, as conversas em volta do seu corpo serão sussurradas porque não fica bem falar mal de quem já morreu, lembrando que ele foi acusado de pelo menos seis práticas ilegais: 1) ter contas pagas pela Mendes Júnior; 2) atuar em favor da Schincariol na Receita Federal e no INSS; 3) uso de laranjas na compra de duas rádios e um jornal; 4) arrecadação em ministérios do PMDB; 5) espionagem de dois senadores da oposição em Goiás; 6) autoria de emenda que destinou R$ 280 mil à empresa fantasma de ex-assessor.

E o Luiz Inácio do Silva? Este, em nota burocrática redigida por algum assessor, afirmou que Jefferson Peres "sempre pautou suas ações pela defesa intransigente da democracia e da ética". Como se vê nas palavras do presidente, entre os dois, há absolutamente nada em comum.

De Luiz Inácio, por ocasião de sua ida para o outro lado, a fazer companhia ao amigo Renan, as manifestações serão unânimes e uma palavra rondará a sentinela, como um esconjuro: corrupção. Este será lembrado pela enxurrada de denúncias de corrupção que ocupa a mídia, o congresso nacional, a política, o STF desde o início do seu governo (?). A frase lapidar (sem trocadilho) a resumir sua biografia é a célebre: "Eu não sabia de nada", referindo-se à sua prática constante de mandar jogar a sujeira para debaixo do tapete e fazer de tudo para impedir a punição dos corruptos. Muitos se lembrarão, em voz baixa e repetirão, como um mantra, as sábias palavras do filósofo vira-casaca:

"Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos." (Mangabeira Unger)

É tudo questão de semeadura, como todos sabemos. Jefferson Péres, grande cidadão, colhe os louros de uma vida baseada na ética. Os outros, colherão o que merecem.

12 comentários:

Anônimo disse...

Esse pessoal que vc falou deve ter comemorado a morte do JP.No mínimo dado risadas.

tunico disse...

Todos que elogiaram Jeffeson Peres se referiram à sua ética. Com um certo ar de frustração,às vezes desdém porque nenhum deles, sem exceção não o são. Somente Peres era assim. Os que falaram com frustração eram políticos de oposição que reconhecidamente foram coniventes com a falta de ética.Os que falaram com desdém, políticos governistas, no fundo, no fundo achavam que Jefferson Peres era um idiota. Ética e seriedade são valores moribundos no mundo político deste país. Depois do falecimento de Peres, são valores mortos.Definitivamente.

Anônimo disse...

FALANDO DE CORRUPÇÃO
É irregular a compra de 12 trens da Alstom, por mais de R$ 223 milhões, sem licitação, pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), segundo julgamento do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A ilegalidade é óbvia, de acordo com o Tribunal: um contrato, com vigência de 1995 a 2000 para todo um lote de trens já entregue, foi "ressuscitado" para essa nova compra em 2005. Além disso, os equipamentos foram para uma linha da Zona Sul e não da Leste, como previa o contrato regular.

Com tudo isso, o ex-governador Geraldo Alckmin declarou à imprensa que não vê "fato concreto", passível de qualquer averiguação. O governador José Serra adota a mesma linha. O TCE faz a sua parte, mas o Executivo paulista não tem nenhuma sindicância, nenhuma investigação, uma apuração a fazer, nenhuma satisfação à opinião pública? Considero um desrespeito aos paulistas que o PSDB mantenha essa postura, aja como se nada tivesse que explicar e continue a aumentar o número de CPIs enterradas em São Paulo – mais de 60 nesses 13 anos e meio de administração tucana. Que transparência, hein?

Anônimo disse...

Há muito que a ética morreu, e talvez tenha sido enterrada de vez com a Peres.
Ver políticos como os citados falando de ética é no mínimo um ultraje.

Frodo Balseiro disse...

Renan COWlheiros, ao ser inocentado pelo plenário do Senado, na mesma noite, promoveu comemoração em sua residência à qual compareceram seus apoiadores da base do governo Lulla!
A piada da noite? Jefferson Peres, relator do processo contra Renan!
O que se pode esperar de um país com políticos tão abjetos?

CAntonio disse...

...Porém (há sempre um porém) o nobre senador votou a favor da CPMF e rendeu-se a ser mais um da base aliada.

Seria exigir demais de um brasileiro a coerência o tempo todo.

Ninguém é perfeito, mas nós, brasileiros, excedemos na imperfeição.

Bjusmil,

Anônimo disse...

Nunca pensei nisto,Saramar.
O estranho é que não me recordo da morte de nenhum picareta corrupto pra falar do que disseram. Mas creio que o pior pra eles é a diferença,morrer sem os holofotes.

Beijos e otima semana!

Jorge Sobesta disse...

Saramar,

Não me fale dessa súcia descendo para as profundas do inverno que chega a me dar àgua na boca, hehe.

Estou meio sumido por falta de motivação, mas eu volto, ah se volto!

Grande abraço.

Fábio Mayer disse...

Mundo injusto este!

Deus leva um Jefferson Peres e deixa os Jader, Requião, Quercia, Maluf e Calheiros por aí...

Anônimo disse...

Só podemos reconhecer o DOCE se provarmos do AMARGO .. perdemos um grande senador, que vai nos fazer muita falta .. quem sabe nas próximas eleições nos consigamos encontrar outros doces .. um beijo grande do amigo .. guto leite.
www.chutandoobardi.blogger.com.br

Unknown disse...

Eles, com seus discursos, ensinam que façam o que falo mas não façam o que faço, e assim a dignidade do ser humano vai pras cucuias...

bjs

Anônimo disse...

O que fica de estranho é este senhor ter que ser velado, com uma bandeira Brasileira sobre o caixão, cercado de pessoas que, se tivessem um pouco, um mínimo de auto crítica, não estariam ali, a deitar falação sobre a ética do morto. Um bando de lobos indo ao enterro do cordeiro. Bizarro. Muito deles, entre tapinhas nas costas e rostos consternados deveriam estar rindo por dentro, pois a decência também morria um pouco naquele instante.
Beijos menina