LOUCOS??? NÃO SOMOS

Sou brasileira responsável e séria.
Por isso mesmo me zango muito.
E cada vez que vejo essa palhaçada, essa mentira,
esse Brasil virtual, poderoso, paraíso, fico gelada
porque parece que a gente é maluco, mas não é (...).
Esse Brasil que é anunciado todos os dias,
maravilhoso, melhor dos melhores,
que vai ser o maior produtor de petróleo do mundo...
Gente dá um tempo!!!
Veja um pouquinho mais de perto, chegue mais perto...
Está tudo muito longe, desfocado,
um paraíso que não consigo ver daqui (...)
Não gosto de ser tratada como imbecil.
Maria Bethânia



Recebi, há pouco, um email com estas palavras de Maria Bethânia. Do que li, destaco uma frase. Mais que meras palavras, acho que iluminam um pouco o ambiente esquizofrênico em que nos movimentamos: “parece que a gente é maluco, mas não é". Para muitos, esta opinião pode parecer óbvia, principalmente para quem vive falando todo dia a mesma coisa, gota pingando sobre pedra, enquanto tempestades caem de todo lado. Mas não é.

Você se lembra do furacão que devastou o sul do país, o Catarina? Afirmaram que era uma tempestade qualquer e que, no Brasil, não há furacões. Quem não sofreu com o Catarina, pode acreditar que não foi um furacão. E as pessoas que sofreram, que perderam tudo? Quem sabe o que estão sofrendo, até hoje, os atingidos por suas conseqüências?

Como o Catarina, no Brasil, tudo é minimizado, principalmente se for maligno. É um paradigma. Se for perigoso, ignore; se for grave, finja que não existe ou que não sabe de nada. E vamos levando a vida na flauta que, apesar da voluntária cegueira, transformou-se em pesadíssimo instrumento, difícil demais para se ir tocando.

A inelutável realidade, debaixo e atrás dos palanques, ilustra a distância entre o discurso e o cotidiano, é óbvio. É aí, infelizmente, que entra a esquizofrenia.

Estou louca se, enquanto o salvador-mor do mundo afirma que governa para os pobres, vejo tudo continuar como sempre foi?
Estou louca se vejo a violência, as pessoas sem assistência médica pelo famoso SUS que, supostamente, tornou universal o direito à saúde?
Estou louca se vi o governo (?) incentivar bancos a tomar dos miseráveis aposentados, o alimento?
Estou louca se vejo as estradas que matam, devidamente escondidas pela "lei seca"?
Estou louca quando vejo o governo (?) do meu país deixar de investir nos seus cidadãos para privilegiar ditadores canhestros (e perigosos) da pobre América Latina, vítima constante dos comunistas irresponsáveis?

O conflito entre a realidade e a retórica governamental pode ser imperceptível para quem vive sob os palanques, sustentanto a farsa trágica da proteção aos pobres que imaginam ter eleito o salvador, sem perceber que incensam seu próprio carrasco.

Esta esquizofrenia coletiva é até compreensível nos analfabetos e miseráveis deste país que permanecem cegos diante de sua duríssima realidade. Afinal, como podem concorrer com marqueteiros talentosos, cuja consciência equipara-se à de galinhas em privilegiado poleiro? Como podem os miseráveis e ignorantes reagir ao discurso dos palanques que afirmam, constantemente, que não são mais miseráveis?

Não podem. Ao contrário. Os miseráveis que não têm acesso às esmolas governamentais, sem saber o preço que pagam por elas, estão se sentindo réprobos, justamente porque nem esta esmola merecem. Entretanto, sabem eles, muito bem, que a esmola é condicionada aos humores e necessidades de quem a dispensa. Isso eles sabem.

Como diz uma recente ajudante que contratei: “nada é de graça, eles sempre querem algo, antes”. Esta observação, tal qual a de Maria Bethânia, traduz a realidade brasileira.

“Eles”. Sempre “eles”, uma entidade perniciosa, uma cruz que carregamos todos, materializada nos políticos. Estes, para mim, hoje, sinônimo de inimigos, assim como para minha ajudante. Ela, com seu salário mínimo, é refém “deles”, assim como somos todos, com nossos médios salários. Reféns, ou seja, vítimas de quem sustentamos sob a falácia da representatividade.

Ora, que representatividade é essa? Aqui em Goiânia, por exemplo, as excelências da câmara municipal, que supostamente me representam, tentaram aprovar três salários, além dos doze que já recebem, ou seja, o 13.º, o 14.º e o 15.º salários. Só desistiram porque este é um ano eleitoral e quase 100% delas tentam a reeleição. Em troca, aparecem, uma ou outra vez, na câmara, para dar título de cidadão a algum aliado político.

Certamente, não me representam ou a algum cidadão. Assim como qualquer outra excelência que vive em palanques, que nos perturba com carros de som, que transforma nossas ruas em depósito de lixo, porque suas propagandas não passam disso: lixo para os cidadãos. E, pior ainda, lixo que pagamos para nos sujar e pagamos para limpar.

Retomando, mais uma vez, à esquizofrenia, o mais difícil é encarar educadores, intelectuais coroados de títulos, supostos defensores dos “menos favorecidos”, ídolos, celebridades (!?) e autoridades (!?) defendendo a perpetuação da ignorância, fingindo-se de cegos diante do desprezo governamental absoluto à educação infantil, à saúde pública, à segurança, obrigações do governo prevista na tal constituição cidadã que, infelizmente, só serve para defender direitos, os mais danosos e obriga ninguém a nada, principalmente estes “pais da pátria” que estão nos levando para o abismo.

Não somos loucos. Um país inteiro não é cego como pretendem seus governantes e vassalos. O que nos domina não é a loucura ou a cegueira. É a desonestidade de quem, infelizmente, finge nos representar.

Quem vê e sabe não é louco. Como disse Bethânia, “parece que a gente é maluco, mas não é”. Somos apenas honestos, como todos deveriam ser.

7 comentários:

Carlos Emerson Junior disse...

Achei tão importante essa declaração da Bethania que usei para encerrar o post "Ouvi por aí...77" que vai sair amanhã!
Foi inesperado e extremamente sincero!

Anônimo disse...

Somos alguns apenas os que vêem e denunciam as falcatruas de todo instante.
Mesmo unidos, nosso universo é insignificante se comparado ao dos bolsistas.
Numa conta simples sabemos que a bolsa-eleitor atinge cerca de quarenta milhões de vassalos. Somem-se a esses os aproveitadores de plantão e teremos cerca de sessenta milhões de puxa-sacos do governo(?) em curso.
Aqui onde moro, em Maringá-PR, de cada dez moradores que converso, onze dizem não gostar do lulla. Entretanto, tenho certeza que em 2010 o salvador da pátria será re-reeleito com uma votação jamais vista "nestepaiz".
Como isto aconteceu em 2006?
A situação era a mesma, todos com quem eu conversava eram contra o lulla e "u homi" levou a faixa!
Até agora não entendi, teria havido um estelionato eleitoral?
O fato é que está tudo dominado sendo o maior exemplo disto a disputa pela prefeitura de São Paulo onde um idiota, por vaidade pessoal se imiscuiu na disputa, porém, tudo devidamente planejado lá pelas bandas do planalto central para que a maior prefeitura do país vá para as mãos peludas dos petistas.
Assim não dá, assim não pode ser, mas ínfelizmente é!

Anônimo disse...

Bom dia Saramar .. agora vc falou uma grande verdade .. "Não Somos Loucos".. mas com toda a certeza eu vou acabar emaluquecendo diante de tantas barbaridades cometidas por esse governinho de merda .. vc acredita que aqui no Rio de Janeiro, cidade outrora maravilhosa, nessas eleições pra prefeito não aconteceram os tais debates na televisão .. eu mais uma vez me sinto ludibriado .. um beijo grande do amigo tijucano .. guto leite.

Anônimo disse...

Vai ver o "ser honesto" , atualmente ,signifique mesmo ser maluco,SARAMAR.
Pelo menos neste país de faz de contas.

beijos!!

Cecília disse...

Não somos malucos mesmo...
Perfeita essa declaração da Bethânia.
Posso enviar este post para alguns amigos? com os devidos créditos, claro!
Tenha uma ótima semana!
Beijos!

Cecília disse...

Obrigada!
E melhoras!
Fica com Deus!!!

Fusca disse...

Muito lúcida e oportuna a sua análise. Não podemos concordar com a eterna e pretensa 'intelectualidade' de filósofos como Bolívar Lamounier, que já jogou a toalha e acha que a corrupção e desonestidade fazem parte da índole brasileira. De jeito nenhum. Meu avô não era corrupto e já não votava no 'rouba mas faz' da época (Adhemar), e porque vamos concordar com essa tese e deixar essas quadrilhas dominando nosso país?
Em qualquer país sério - como o Brasil já foi na década passada - essa corja teria sido arrancada do poder pela lei. Bolívar (és bolivariano?), não esquece de avisar a Receita Federal...
Samara, parabéns, estamos contigo, e não somos poucos... a maioria da população brasileira é honesta, quem mais sustenta os bilhões desviados dos cofres públicos por essa escória?