O QUE MAIS NOS VITIMARÁ?

Quando o sigilo bancário do caseiro Francenildo foi quebrado para desmoralizar sua imagem e, assim, invalidar o depoimento arrasador que prestou contra figurinhas da cambaleante república brasileira, imaginei que seria impossível chegar mais fundo no lamaçal em que estas mesmas figurinhas transformaram o país. Mas, em se tratando da politicalha, principalmente desta que nos domina, nenhuma baixeza parece ser a última, nenhum pântano parece ter fundo.

Minha avó sempre diz que, quem se mistura com porcos, farelo come. Assim, o país que, imprudentemente, bandeou-se para o lado negro da política vive empanzinado de infecto farelo.

Que me perdoem os honestos, mas o atentado à democracia materializado na escuta clandestina de telefonemas, usado e abusado, como sabem agora, os cidadãos, é sinal perigoso e claríssimo de que vivemos todos, inclusive os governantes sob a nuvem imunda dos chantagistas.

Por que isso se tornou possível? Ora, a resposta é transparente. Os políticos brasileiros enveredaram por caminhos enlameados que constantemente os levam às páginas policiais da mídia. Esqueceram-se de quem os elegeu, embalados na impunidade que premia todo bandido protegido por leis excessivamente complacentes. E assim, transformaram-se em reféns dos vermes que usam e abusam dos famigerados "grampos". Estão livres da prisão legal, mas presos nos grampos.

Poderíamos comemorar este castigo inusitado (em países onde as leis são respeitadas). Porém pessoas inocentes são as maiores vítimas desses criminosos que andam infringindo a lei, ao violar a comunicação entre particulares, sejam autoridades ou o mais comum dos cidadãos.

A maior vítima, entretanto, é o próprio país, é a própria democracia que vê um dos seus fundamentos violentamente desrespeitados. Diante deste crime, qualquer complacência constitui cumplicidade, qualquer tibieza nas investigações constitui traição ao Estado brasileiro.

Apesar de não acreditar em nenhuma autoridade brasileira, espero que, diante da gravidade do que está acontecendo, desta vez, os verdadeiros criminosos sejam descobertos, apresentados à nação e exemplarmente punidos.

Sim, eu também sonho.