HOJE, COMO DANTES...

um texto de Guerra Junqueiro


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, agüentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;

um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;

um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

(...) Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverossímeis (...)

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

(...) A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

(...) partidos (...) sem idéias, sem planos, sem convicções, incapazes, (...) vivendo (...) do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos atos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no Parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Copiei o excelente texto do belo e indignado blog do Poeta Vitor Cintra .

6 comentários:

Jay Dee disse...

Sim, muito bom

Anônimo disse...

Sem dúvidas, um ótimo texto. Contudo, forçoso dizê-lo, apenas mais um texto...

Alexandre, The Great

antonior disse...

Pois! Como o teu título contextualiza o texto :-)...
Pois, ainda, a rebelião legítima é sagrada, a ilegítima crime.
Como sabes sou e sempre serei contra as bestas de nora, pela sua dignificação e pela humanização dos métodos de extracção de água do solo profundo. Apesar da imensa distância que este Atlântico nos põe pelo meio, penso que as questões que se colocam são universais.

Beijinhos

Anônimo disse...

A gente escreve,brada,grita...será que adianta?/

Sei não,viu SARAMAR!!

Beijão!!

Anônimo disse...

é ........ falou tudo, concordo com o comentário do Do

Betty Vernieri disse...

Querida amiga

As mazelas que nos afligem, na condição de brasileiros, não são exclusividade do nosso povo. O ser humano deixa muito a desejar.

Guerra Junqueiro, poeta português, viveu de 1850 a 1923. Estamos no ano de 2007... Será preciso dizer mais?

Um beijinho da
Betty