O GRANDE BUFÃO DA MALDADE

Em algum excêntrico teatro, o bufão da maldade é o astro principal, o diretor e o animador de platéia, qualquer que ela seja. Encena perfeitamente o espetáculo que cada público espera. Ora grave, ora grosseiro, ora malicioso, sempre ridículo, como só sabe ser o bufão.

Em sua pantomima, mais se parece com a cortina do palco, porque vela a alma que o habita e quer se sobrepor ao roteiro. O bufão ultrapassa sua própria encenação e a quer realidade, ainda que o coro temerosamente ouse contrariá-lo, mostrando que avança além do texto, correndo o risco de perder a marcação, desabar sobre a platéia e ver sua máscara em pedaços, ridiculamente exposta.

É o que basta. Vermelho, quase apoplético, o bufão, sempre no palco -seu berço e sua nêmesis- quase se derrama pelos olhos furibundos, congestionados. Seus braços sobem e descem como uma guilhotina a decepar cabeças que contêm cérebros. Berra, bufa, ulula insensatas palavras, fora do script, até que a claque mais treinada abafa sua nova insensatez com o som dos aplausos comprados.

Ainda assim, o bufão não sai do palco. Nunca sai.