A CATÁSTROFE DE LÁ E A TRAGÉDIA DAQUI

Mesmo não sendo insensível à catástrofe do Haiti que, em nossa percepção, parece imensurável, é impossível esquecer alguns fatos ocorridos no Brasil, como a tragédia de Angra (a mais atual), no Piauí (o mais pobre) ou em Santa Catarina (a mais antiga).

Ainda que estatísticamente "menores", estes fatos são igualmente trágicos, são terríveis e doem tanto ou mais que a tragédia do Haiti porque aconteceram e continuam acontecendo com com os cidadãos brasileiros, com amigos ou parentes que estão morrendo ou perdendo o pouco que conseguiram comprar.

A reação das autoridades brasileiras (?) diante do terremoto do Haiti foi rápida, mesmo porque já estamos, há anos, trabalhando para garantir algum tipo de ordem naquele país. Ainda bem que o presidente da república brasileira não foi lá para dizer certas insanidades. Deste mal, os haitianos se livraram, ao contrário dos piauienses.

E o povo daqui? E os catarinense, os piauienses, os paulistas? Será que foram tão prontamente cuidados?

Enquanto briga com os EUA para cuidar dos haitianos, o governo brasileiro utiliza a tragédia de seus cidadãos como instrumento político e usa argumentos burocráticos para dificultar o auxílio urgente para pessoas que tudo perderam. Tanto para Santa Catarina, há dois anos, como para o Piauí, em maio de 2009, o presidente da república afirmou que "dinheiro não é problema" e exigiu de cidades arrasadas a construção de projetos e a prestação de contas de recursos anteriormente investidos.

Que perfeição! Quanta lisura e espírito público! Eis o cumprimento do princípio da moralidade pública em sua face mais rígida, como é costume neste país. Se um daqueles municípios lá do Piauí, que não tem sequer um posto de saúde (mas tem câmara municipal com, no mínimo, 7 vereadores, geralmente "aliados"), cuja prefeitura virou lama, onde tudo foi tomado pelas águas, quiser receber alguma ajuda do governo federal, tem que apresentar um projeto especificando como gastará cada centavo. Exatamente como fazem os portadores de cartão corporativo do governo federal.

Quantos projetos o Haiti deverá apresentar para que o governo brasieliro libere os milhões que prometeu? Não pergunte a Santa Catarina porque, ainda hoje, há municípios daquele estado vivendo de promessa.

Mas também, né, quem mandou algum estado brasileiro arrasado por enchentes não ter direito de voto no conselho de segurança da Onu?

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